Derradeira evocação da ladainha
2017
instalação sonora
Leitura de trechos de Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto, do roteiro do filme Conterrâneo Velho de Guerra (1991, Vladimir Carvalho) e dados do Arquivo Nacional sobre a construção de Brasilia para uma mansão modernista inacabada e abandonada.
Embora a colagem original dos textos tenha se perdido, segue abaixo a transcrição de uma das primeiras versões da proposta:
*
" (A) - Assiste ao enterro de um trabalhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos que o levaram ao cemitério.
(todos) Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia!! 17% de Alagoas.
(A) E foi construída a casa de pedra, fronteira ao lago.
E os trabalhadores já estão levantando as grades.
As barras são de ferro com agudas pontas de aço.
Que podem tirar a vida de quem passar sobre elas.
Como grade é uma obra prima e afasta a tudo:
Vagabundos, famintos e as crianças errates que buscam lugar para brincar.
Através das barras e por sobre as pontas de aço nada poderá passar.
A não ser a morte, a chuva e o dia de amanhã.
(1) - Viverás, e para sempre na terra que aqui aforas: e terás enfim tua roça.
(2) – Aí ficarás para sempre, livre do sol e da chuva, criando tuas saúvas.
(1) – Agora trabalharás só para ti, não a meias, como antes em terra alheia.
(3) – Trabalharás uma terra da qual, além de senhor,serás homem de eito e trator.
(1) – Trabalhando nessa terra,tu sozinho tudo empreitas:serás semente, adubo, colheita.
(2) – Trabalharás numa terra que também te abriga e te veste: embora com o brim do Nordeste.
(1) – Será de terra tua derradeira camisa:te veste, como nunca em vida.
(3 )– Será de terra e tua melhor camisa:te veste e ninguém cobiça.
(1 )– Terás de terra completo agora o teu fato:e pela primeira vez, sapato.
(2) – Como és homem, a terra te dará chapéu: fosses mulher, xale ou véu.
(1)- Tua roupa melhor será de terra e não de fazenda: não se rasga nem se remenda.
(3) – Tua roupa melhor e te ficará bem cingida: como roupa feita à medida.
(1) - Esse chão te é bem conhecido
(todos) - bebeu teu suor vendido.
(1) - Esse chão te é bem conhecido
(todos) - bebeu o moço antigo.
(1) - Esse chão te é bem conhecido
(todos) - bebeu tua força de marido.
(1)- Desse chão és bem conhecido
(todos)- através de parentes e amigos.
(1)- Desse chão és bem conhecido
(todos) - vive com tua mulher, teus filhos.
(1) - Desse chão és bem conhecido
(todos)- te espera de recém-nascido.
(2) - Não tens mais força contigo:
(todos) -deixa-te semear ao comprido.
(3) - Já não levas semente viva:
(todos) - teu corpo é a própria maniva.
(2) - Não levas rebolo de cana:
(todos) - és o rebolo, e não de caiana.
(3) - Não levas semente na mão:
(todos) - és agora o próprio grão.
(2) - Já não tens força na perna:
(todos) - deixa-te semear na coveta.
(3) - Já não tens força na mão:
(todos) - deixa-te semear no leirão.
(todos)
Inacio Sertanejo da Silva
Manuel Joaquim da Silva
Joaquim Estevão
Suzana
Otacilio
Sinval
Sebastião Ferreira da Silva
Tião Provisorio
Pedreiro Valdemar
Zé Vinte
Anisio
Severina Apoiadeira
Evaristo
Vladimir
Valmir
Barroso
Clementino
Ferreirinha
Geraldo Gege
Raimundo Nonato
Nonatinho
Francisco de Assis
(A) - Deus te de o descanso eterno e o resplendor da luz perpetua.
* deve ser lido 4 vezes ao dia, nos seguintes horários:
- Pela manhã, ao nascer do sol
- ao meio dia
- De tarde, no por do sol
- A meia noite"
instalação sonora
Leitura de trechos de Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto, do roteiro do filme Conterrâneo Velho de Guerra (1991, Vladimir Carvalho) e dados do Arquivo Nacional sobre a construção de Brasilia para uma mansão modernista inacabada e abandonada.
Embora a colagem original dos textos tenha se perdido, segue abaixo a transcrição de uma das primeiras versões da proposta:
*
" (A) - Assiste ao enterro de um trabalhador de eito e ouve o que dizem do morto os amigos que o levaram ao cemitério.
(todos) Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia!! 17% de Alagoas.
(A) E foi construída a casa de pedra, fronteira ao lago.
E os trabalhadores já estão levantando as grades.
As barras são de ferro com agudas pontas de aço.
Que podem tirar a vida de quem passar sobre elas.
Como grade é uma obra prima e afasta a tudo:
Vagabundos, famintos e as crianças errates que buscam lugar para brincar.
Através das barras e por sobre as pontas de aço nada poderá passar.
A não ser a morte, a chuva e o dia de amanhã.
(1) - Viverás, e para sempre na terra que aqui aforas: e terás enfim tua roça.
(2) – Aí ficarás para sempre, livre do sol e da chuva, criando tuas saúvas.
(1) – Agora trabalharás só para ti, não a meias, como antes em terra alheia.
(3) – Trabalharás uma terra da qual, além de senhor,serás homem de eito e trator.
(1) – Trabalhando nessa terra,tu sozinho tudo empreitas:serás semente, adubo, colheita.
(2) – Trabalharás numa terra que também te abriga e te veste: embora com o brim do Nordeste.
(1) – Será de terra tua derradeira camisa:te veste, como nunca em vida.
(3 )– Será de terra e tua melhor camisa:te veste e ninguém cobiça.
(1 )– Terás de terra completo agora o teu fato:e pela primeira vez, sapato.
(2) – Como és homem, a terra te dará chapéu: fosses mulher, xale ou véu.
(1)- Tua roupa melhor será de terra e não de fazenda: não se rasga nem se remenda.
(3) – Tua roupa melhor e te ficará bem cingida: como roupa feita à medida.
(1) - Esse chão te é bem conhecido
(todos) - bebeu teu suor vendido.
(1) - Esse chão te é bem conhecido
(todos) - bebeu o moço antigo.
(1) - Esse chão te é bem conhecido
(todos) - bebeu tua força de marido.
(1)- Desse chão és bem conhecido
(todos)- através de parentes e amigos.
(1)- Desse chão és bem conhecido
(todos) - vive com tua mulher, teus filhos.
(1) - Desse chão és bem conhecido
(todos)- te espera de recém-nascido.
(2) - Não tens mais força contigo:
(todos) -deixa-te semear ao comprido.
(3) - Já não levas semente viva:
(todos) - teu corpo é a própria maniva.
(2) - Não levas rebolo de cana:
(todos) - és o rebolo, e não de caiana.
(3) - Não levas semente na mão:
(todos) - és agora o próprio grão.
(2) - Já não tens força na perna:
(todos) - deixa-te semear na coveta.
(3) - Já não tens força na mão:
(todos) - deixa-te semear no leirão.
(todos)
Inacio Sertanejo da Silva
Manuel Joaquim da Silva
Joaquim Estevão
Suzana
Otacilio
Sinval
Sebastião Ferreira da Silva
Tião Provisorio
Pedreiro Valdemar
Zé Vinte
Anisio
Severina Apoiadeira
Evaristo
Vladimir
Valmir
Barroso
Clementino
Ferreirinha
Geraldo Gege
Raimundo Nonato
Nonatinho
Francisco de Assis
- - Eu só posso construir com meu peito contra a ponta de uma faca.
- - E qual é a sua graça?
(A) - Deus te de o descanso eterno e o resplendor da luz perpetua.
* deve ser lido 4 vezes ao dia, nos seguintes horários:
- Pela manhã, ao nascer do sol
- ao meio dia
- De tarde, no por do sol
- A meia noite"